Doze exemplos de um mundo duodecimal

Vamos concordar que vivemos em um mundo decimal. Costumamos contar grandezas e distâncias em múltiplos de dez. Damos notas de zero a dez. E fazemos listas com dez itens. Porque dez é um número fácil de manipular – afinal temos dez dedos – e também fácil de multiplicar e dividir. Porém, há um outro número que sorrateiramente se infiltra no nosso cotidiano. Um que está na base da matemática antiga e que, até hoje, disputa com a dezena a primazia na preferência dos homens. Estamos falando do número doze, a base da contagem duodecimal. Nos próximos parágrafos, descubra doze lugares onde esse número é utilizado – mesmo em um mundo no qual impera o dez.

Há milhares de anos atrás, a humanidade havia começado a criar rebanhos e fazer plantações e, com essas atividades, surgiu o comércio. Na Mesopotâmia, o antigo povo sumério percebeu que para fazer negócios precisava de uma forma confiável de contar. Sem instrumentos específicos, a solução era usar a própria mão. E uma só, porque a outra manipulava a mercadoria. A contagem era feita tocando o polegar nas articulações de cada um dos outros quatro dedos. Como cada dedo tem três articulações, uma mão completa somava doze, que passou a ser a base para a contagem de produtos agrícolas. E que permanece até hoje, com ovos, bananas e afins sendo vendidos por dúzia ou metade dela. Em tempo: caixas de ovos com dez unidades são um insulto à tradição suméria, e uma tentativa de ludibriar o consumidor. Fique de olho.

O hábito de contar com a base doze ficou tão arraigado nos povos do passado que os primeiros astrônomos o utilizaram para a contagem do tempo. Primeiro, dividiram o ano em doze meses, porque esse número lhes convinha. Se quisessem igualar o número de dias dos meses, teriam que espalhá-los em treze. Mas isso é outro assunto. Usando o familiar doze, era possível dividir o ano em quatro estações de igual duração, o que era uma mão na roda para os agricultores. Usando a base duodecimal, também foi possível emparelhar os ciclos da lua, também fundamentais para as plantações.

O dia também foi fracionado em doze horas de luz e doze de sombra. E cada hora e cada minuto foi fracionada em 60 partes menores – mas mantendo-se o múltiplo. As horas duodecimais também acabaram gerando os fusos horários, que casaram bem com divisão do globo em ângulos de 15 graus (360/24), que garante uma iluminação solar uniforme para uma mesma extensão de terra.

Na área da recreação e lazer, o doze também se faz presente. Na poesia, os versos dodecassílabos, também chamados de alexandrinos, estão entre os mais valorizados pelos autores clássicos. Nos jogos de damas, cada competidor usa doze peças. Outro lugar onde a base doze é encontrada é em jogos de cassino online como a roleta. A mesa é formada por trinta e seis números divididos em três dúzias, nas quais se pode apostar com um rateio de um para três.

Doze é o número de signos do zodíaco, outra invenção dos mesopotâmios, baseada na sua forma de dividir a abóboda celeste. Assim como os meses, poderiam ser treze signos, mas nossos antepassados preferiram a praticidade do doze… novamente.

Com os signos, o mangaká Masami Kurumada criou os doze Cavaleiros do Zodíaco, sucesso mundial e um dos exemplos de grupos de personalidades que se juntam em dúzias. Além dos Saint Seiya japoneses, temos outros cavaleiros, os da Távola Redonda com seu rei Artur.  E diversos filmes como Os Doze Macacos, Os Doze Condenados, Os Doze Órfãos, Os Doze Heróis e Os Doze Jurados. Hollywood gosta do número.

Se você contou direito, chegamos aos doze exemplos de como a dúzia permeia nossa vida, mesmo sendo a dezena a grande mandachuva atual. Mas ela que se cuide, porque o doze está aí há muito tempo, e não irá embora tão cedo. Tirá-lo da vida das pessoas vai ser mais difícil que os trabalhos de Hércules. Que, por sinal, eram doze.